BIOCHIP: APRENDENDO COM OS ALIMENTOS VIVOS

por Mayra Jucá

 

Uma aula de desenho que ensina a comer. Assim é o BioChip, trabalho que a professora Ana Branco vem desenvolvendo há cinco anos na PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro. Os alunos, gente de todas as idades, estudantes ou não da Universidade, aprendem a desenhar com modelos vivos, que são hortaliças, frutas, verduras, brotos e sementes. Transformam os alimentos em pigmentos, criam mandalas coloridas em pratos e bandejas e encerram a atividade degustando suas obras. Nessa brincadeira tão original quanto deliciosa, Ana vai ensinando o poder das sementes, do suco de clorofila, da alimentação viva. É aí que começa o aprendizado da “Convivência com o BioChip”.

De todo o “material de desenho” utilizado nas aulas do BioChip, o mais importante são as sementes. No primeiro dia do curso, todos aprendem como germiná-las e levam um punhado delas para casa. Segundo Ana Branco, a semente é o próprio biochip, é uma unidade de memória, assim como o chip do computador, tambem está viva. “O chip do computador tem silício dentro de uma molécula de água. Esse silício guarda a informação que alguém colocou lá dentro. Isso foi copiado dos vivos, porque também tem silício dentro de uma molécula de água na semente, por exemplo. Só que a informação que está lá dentro é biológica. E é milenar”, explica.

Sementes de lentilha, ervilha, girassol, painço, alpiste, linhaça, grão-de-bico, alfafa e todas as outras comestíveis . Na sementoteca do LOTDP na Puc estao disponibilizadas hoje 35 variedades. Costituem a base da alimentação viva. Depois de germinadas, elas passam a ter 20 mil vezes mais valor nutritivo do que antes.  Os grãos germinados permitem que se coma menos quantidade e muito mais qualidade. Além da incrível potência nutricional, essas pequenas unidades de memória viva contém informações “matrísticas”, ou seja, relacionadas à nossa matriz, nossa origem. “Essas informações que estão no alimento vivo podem ser decodificadas a partir do contato direto com ele. Comendo, manuseando, sentindo seu cheiro e suas formas, vamos recuperando a nossa memória de mamíferos, a sabedoria de lidar com a terra e com os outros seres vivos”..

O suco de clorofila é outra receita essencial do BioChip. Das sementes, folhas e legumes  e possivel extrair o sumo, uma bebida verde que, pela  sua delicadeza, em 15 minutos entra no sangue e se transforma em hemoglobina, acelerando diversos processos de cura. “Por causa da alimentação acidificante a que estamos habituados, nossa percepção está , entorpecida. Nós não temos muita clareza sobre o que nos favorece enquanto humanos. O suco de clorofila é alcalino, ajuda a reverter esse processo”, esclarece.

Para consumir alimentos vivos, é preciso estar atento aos processos que provocam a quebra das moléculas de água que guardam o silício, onde está a informação. O cozimento, por exemplo. Na alimentação viva os grãos, legumes e verduras são no máximo aquecidos e quem regula a temperatura da água é a sua mão. Quando a água está interessante  para a mão de quem vai comer, é porque também está interessante para o alimento. Assar, congelar e colocar no microondas também causam a desnaturação, a  desinformação  dos alimentos. Os vegetais devem ser, de preferência, orgânicos. Alimentos processados industrialmente e misturas de amido com proteína são acidificantes para o vivo.

As aulas do BioChip acontecem em hortas de cultivo orgânico, onde o grupo aprende a colher o material de desenho; no LOTDP (Laboratório Oficina de Treinamento e Desenvolvimento de Protótipos, na PUC), um galpão onde Ana e seus alunos fazem os desenhos com os modelos vivos comestíveis . Na  praça do Russel na Glória, onde  mensalmente é instalado o Laboratório Itinerante de Pesquisa do Aprendizado com Modelos Vivos durante a feirinha orgânica de sábado, chamando a atenção dos passantes que são convidados a desenhar com os alimentos da feira e degustar as composições em seguida.

“A alimentação viva renova os pensamentos”

Esse grupo Aberto de Estudo Pesquisa e Desenho com Modelos Vivos vem favorecendo pessoas dispostas a mudar não só seus hábitos alimentares,conseqüentemente seu olhar para a vida adotando um comportamento novo que integra os planos físico, mental e espiritual. Seus ex-alunos, os “biochipados”, quase sempre incorporam a alimentação viva (ou simplesmente alimentação biochip, como dizem) e continuam freqüentando as aulas, para praticar. “Eles voltam para ficar junto, trocar informações com o grupo, encontrar os pares Porque é bom compartilhar as maravilhas descobertas..

Algumas turmas vivenciaram com a professora a experiência de levar o BioChip para comunidades do interior da Bahia, dentro do programa Universidade Solidária ou em convênios entre a prefeitura local e a PUC. Durante um mês eles produziram as próprias refeições aproveitando tudo o que a terra oferece. Em Canavieiras e Queimadas (Bahia) comeram palma, mandacaru, xiquexique broto de taboa e outras plantas e frutas nativas . Nós fomos observando o que os animais comiam e começamos a comer também. Os 12 alunos da PUC, jovens da Zona Sul carioca, comeram fartamente o que aquela terra que diziam ser tão pobre tinha a oferecer. No começo os habitantes  estranhavam, depois foram se aproximando, até que todos os dias alguém se convidava para comer com a gente”, conta. A miséria no Nordeste, para Ana, não tem razão de ser: “Não há motivo para ninguém passar fome nem no sertão nem em lugar nenhum. A terra dá tudo que a gente precisa, tem alimento de sobra para todos. Acreditamos que só podemos comer o que nos foi ensinado pelo sistema de organização social em que estamos inseridos. E,  como nos somos o que comemos e bom pensar nisso.

O BioChip tem levado o grupo a vários municípios, instituições de saúde e escolas, multiplicando o aprendizado sobre os vivos. No Rio, o trabalho extrapolou o campus da PUC e já é desenvolvido na Fundação Oswaldo Cruz, onde sua  irmã  Dra  Maria Luiza Nogueira, convive com  alimentação viva e mantém uma horta orgânica.dentro do Centro de Promoção de Saúde Sinval Faria Uma parceria com a Pastoral Universitária está surgindo, já que Ana identifica  na Biblia conceitos presentes no BioChip. E finalmente, para costurar todo o conhecimento que vem extraindo da experiência e de uma extensa bibliografia , esta sendo organizado divulgação virtual dos desenhos do grupo, pois essas idéias estão em constante movimento, por isso serão publicadas  na Internet, no site http://venus.rdc.puc-rio.br/anabranc/.